CONFERÊNCIA NO ENCONTRO DE COMUNICADORES DA PASCOM ARQRIO
27 de maio de 2017
A Mídia, o Desafio de Comunicar a Verdade e a Importância das Fontes
Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Caríssimos amigos e colaboradores da PASCOM de nossa Arquidiocese,
No VI Domingo da Páscoa, a Igreja no Brasil comemora a Solenidade da Ascensão do Senhor, que é também o Dia Mundial das Comunicações Sociais, este ano em sua 51ª edição.
Como fazemos anualmente, reunimo-nos na véspera desse domingo a fim de refletir sobre a mensagem do Papa Francisco para esta data, tema escolhido na festa dos Arcanjos Gabriel, Rafael e Miguel, e texto publicado por ocasião da festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, em 24 de janeiro. O tema para este ano é: «“Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43,5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo».
Já tive oportunidade de escrever um artigo sobre o tema da mensagem, divulgado esta semana na mídia de nossa Arquidiocese. Agora, gostaria de fazer algumas colocações que possam contribuir para que reflitamos juntos sobre a importância de aplicar as palavras do Papa diretamente à tarefa de cada um de nós. Daí o título que escolhi para esta minha fala: “A Mídia, o Desafio de Comunicar a Verdade e a Importância das Fontes”.
Nos dias atuais, a importância da missão de vocês se torna cada vez maior e, ao mesmo tempo, assume uma responsabilidade correspondente. Somos contemporâneos de uma época de mudanças que ocorrem no mundo inteiro e desestabilizam as pessoas, retiram-lhes seguranças, questionam certezas e espalham insegurança e medo. Apesar das diferentes causas nos vários continentes, a crise do nosso tempo atinge a todos, envolvendo intolerância, discriminação e violência. Nosso país não está imune a essas consequências. Vivemos nossos próprios desafios, que nos colocam diante de uma urgente necessidade não apenas de mudança de estruturas, mas de resgate de valores. É deles que a nossa sociedade carece com mais urgência e intensidade.
Por isso, convido vocês a uma grave tomada de consciência sobre o seu papel enquanto cristãos e profissionais da mídia. Nós, pastores, também nos encontramos diante de um grande desafio, pois não se trata apenas de guiar o rebanho, mas de ir ao encontro daqueles que não têm pastor, nem rumo ou sentido na vida. O papel de vocês é fundamental para nos auxiliarem nesta obra. Nenhum de nós pode se omitir neste momento, pois aí está a missão que o Senhor nos confiou. Temos que anunciar Cristo para as pessoas, e vocês são aqueles que levam nossas palavras até elas.
Como nos ensina o Papa Francisco na sua mensagem: “Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingênuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal”.
Não se pode anunciar aquilo em que não se crê. Do contrário, mesmo as mais poderosas tecnologias de nada valeriam, pois, por si mesmas, podem até chegar aos ouvidos das pessoas, mas não lhes tocam os corações. O primeiro passo é sempre a conversão na caminhada de fé, para todos nós. A conversão é um processo permanente de reorientação da nossa vida para o Senhor, deixar-se iluminar pela Verdade de Jesus Cristo, que a Igreja ensina. Na sua mensagem, o Papa usa a metáfora dos “óculos”, que nos permitem reconhecer essa Verdade. Isto quer dizer que não temos a “potência visual” necessária para chegar até ela, mas precisamos que o Senhor venha em nosso auxílio para suprir nossa fragilidade com a Sua luz.
Repropondo o que afirmei no meu artigo, a mensagem do Papa Francisco está dividida em três tópicos, o primeiro dos quais nos mostra o quê anunciar, isto é, onde está a Verdade da qual lhes falo – ela está contida na Boa Notícia. Esta é, por excelência, o Evangelho de Jesus Cristo. Mais do que um relato de tudo o que o Senhor disse e fez, a Boa Notícia é o próprio Jesus Cristo, a Palavra que o Pai nos enviou para, verdadeiramente, conhecermos Seu plano de amor para nós. “Nós”, aqui, não significa que formamos uma elite de escolhidos porque acolhemos a Palavra e, portanto, ela se destinaria exclusivamente aos cristãos batizados. O pronome “Nós” abrange a humanidade inteira, que o Senhor redimiu pela entrega da própria vida. Essa amplitude nos desafia a levar a Palavra a quantos pudermos atingir, mesmo diante de uma sociedade muitas vezes indiferente e, até mesmo, hostil aos valores do Evangelho.
Diz o Papa Francisco em outro trecho de sua mensagem: “Esta boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do Seu amor ao Pai e à humanidade. Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos. ‘Não tenhas medo, que Eu estou contigo’ (Is 43, 5): é a palavra consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu povo”.
A seguir, o Papa nos mostra como anunciar a Boa Notícia. O modelo é o próprio Jesus, através de parábolas. Na sua pedagogia, Ele recorre a esses relatos concretos como recursos para ensinar e, ao mesmo tempo, dar ao ouvinte a liberdade de (aplicá-las) aplicá-los a si mesmo. Por isso que, a exemplo do semeador, temos que trabalhar com a Confiança na semente do Reino. Este é o segundo tópico da mensagem de Francisco. A semente traz em si a própria força de germinar e crescer, que se realiza quando morre. Não se pode observar o processo, que ocorre no silêncio e no escondimento do interior da terra. Compete a nós confiar nessa promessa e prover as condições propícias para que isso aconteça, cercando-a dos cuidados necessários para que possa cumprir sua finalidade.
Destaco, aqui, a importância das fontes como as mediadoras do anúncio da Palavra. Quando obtemos nossas informações de fontes confiáveis, elas são a nossa garantia de semear trigo e não joio no campo do Reino de Deus. Porque se nos dedicamos a uma semente que não vem de boa linhagem, a colheita será desastrosa.
Diz o Papa: “...Que sejam as imagens – mais do que os conceitos – a comunicar a beleza paradoxal da vida nova em Cristo, onde as hostilidades e a cruz não anulam, mas realizam a salvação de Deus, onde a fraqueza é mais forte do que qualquer poder humano, onde o falimento pode ser o prelúdio da maior realização de tudo no amor. Na verdade, é precisamente assim que amadurece e se entranha a esperança do Reino de Deus, ou seja, «como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce» (Mc 4, 26-27)”.
Finalmente, o terceiro tópico nos aponta para onde devemos dirigir o nosso olhar, isto é, para os Horizontes do Espírito. A ocasião mais próxima é a Festa da Ascensão, que descortina para nós os horizontes da esperança, pois Jesus nos abre as portas do céu e promete a vinda do Paráclito. Portanto, os horizontes do Espírito nos conduzem mais longe na esperança, rumo à consumação definitiva da história, nos tempos finais.
Continuando a citar trechos da mensagem, temos a seguinte afirmação do Papa: “Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama duma história de salvação. O fio, com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador”.
Nossa melhor conclusão é, portanto, uma reafirmação de confiança e esperança, seguindo também o pensamento do Papa. Ele nos fala dos santos como “ícones do amor de Deus” para nós. São exemplos de cidadãos do Reino que nos precederam no caminho aberto por Jesus Cristo. O Papa também cita aqueles que, ao longo da História, se tornam “como que faróis na escuridão deste mundo”.
Repito, então, o que afirmei no começo desta reflexão – que devemos deixar-nos iluminar pela Verdade de Jesus Cristo. Assim, pelo testemunho de nossas vidas e pela competência do nosso trabalho, podemos ser “faróis na escuridão”, que não brilham com luz própria, mas revelam o que recebem d'Aquele que é a verdadeira “Luz do mundo” (cf. Jo 8,12).