O ministério sacerdotal é um dom para a Igreja e para o mundo. Urge aprofundar a compreensão das medidas e o alcance do sacerdócio como dom. O padre como dom. E, sendo assim, o sacerdote é dádiva de Deus. A cada ordenação presbiteral é um grande mistério que vejo acontecer diante de mim. Um momento de fazer renascer o fervor pela vida sacerdotal e pela missão recebida.
O Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos padres, aquele que tocou com o seu ministério, de modo admirável e inesquecível, a vida da França no seu tempo, afirmava, “o sacerdócio é o amor do coração de Jesus”. Agradecido pelo dom do seu sacerdócio, que fez de uma vila sem importância, em razão da excelência de sua vida sacerdotal, o grande centro de referência, batendo, pelas razões da busca de Deus e do sentido para a vida, a imbatível Paris de todos os tempos.
Como dom, o sacerdote não é promotor e agente de um tipo de mercado religioso que hoje se multiplica. Ele é o homem tirado do meio dos homens para servir aos homens nas causas de Deus. Deus é amor. Jesus Cristo é o amor encarnado de Deus. O amor vem de Deus. E todo aquele que ama nasceu de Deus – e conhece a Deus. Quem não ama não chegou a conhecer Deus. Pois Deus é amor, ensina o evangelista João na sua primeira carta. Ele continua, “foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados” (I Jo 4,7-10).
O sacerdote é dom porque o seu ministério sacerdotal, desdobrado em conduta, serviços, vivências e posturas, é manifestação e concretização deste amor. O Padre, como já dissemos, homem escolhido entre homens e constituído em favor de todos, é discípulo missionário servidor do povo de Deus. E sustentado pela contínua busca da santidade de vida, é facilitador desse indispensável e inadiável encontro pessoal com o Cristo vivo, levando todos ao reconhecimento e à sabedoria de pautar a sua vida tendo Deus como seu centro e fonte inesgotável do seu sentido. O sacerdote, por isso mesmo, faz anteceder às suas muitas tarefas no labor de cada dia a serviço do povo, anunciando o Evangelho, o cuidado e o compromisso com a condição do seu ser. É a santidade de vida que alavanca, fecunda e torna exitoso o serviço prestado na condição própria de sacerdote.
Um olhar atento e sincero deve ser lançado sobre a presença e vivência sacerdotal neste momento da vida da Igreja e de sua missão no coração do mundo. Não deixando de considerar e tomar providências quanto aos descompassos de vidas e condutas sacerdotais questionáveis, é preciso reconhecer a magnitude, em quantidade e extensão, do serviço de padres na vida de famílias, de pessoas, de grupos, dos pobres, na cultura e nas comunidades de fé, para que todos sejam um em Cristo. Fazendo deste serviço uma escola de amor.
Um compromisso empenhado para ser e fazer de todos discípulos pela escuta da Palavra de Deus, interpelando vidas e condutas, e pela vivência dos sacramentos como fonte amorosa da graça de Deus que transforma e sustenta. O sacerdote é, pois, um dom para a comunidade, pela unção do Espírito Santo e por sua especial união com Cristo. Na cultura atual, o padre é chamado a conhecê-la profundamente, conduzindo todos, como facilitador, para beber na fonte do mistério do amor de Deus pela Palavra e pelos Sacramentos.
Uma consequência importante destas reflexões: a vida do sacerdote está envolvida pelo mistério de Cristo. Nada explica suficientemente a vida do padre a não ser o mistério de Cristo. Neste sentido, hoje é preciso insistir que o, antes de tudo, é e não simplesmente faz. Poderíamos discorrer sobre o grande perigo na vida do padre da tentação do fazer muitas coisas, a tentação do ativismo. Com muita propriedade, o sacerdote pode atribuir a si aquelas palavras de São Paulo na Carta aos Colossenses: nossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Viver do mistério: primeiro ponto e fundamental, o sacerdote vive da Eucaristia e da vivência da Eucaristia no seu cotidiano. As palavras da celebração eucarística definem bem sua existência. A sua vida é uma vida entregue pelas pessoas, isto é o que realiza o plano de Deus sobre ele. Atenção para não confundir a realização dos nossos anseios pessoais e nossos talentos como algo importante para a realização do nosso sacerdócio.
Neste mistério insondável de Deus, que é o ministro ordenado, no último sábado, dia 07 de novembro, tive a grata alegria de promover ao ministério presbiteral seis diáconos de nossa Igreja Metropolitana, e no domingo, dia 15, um diácono dos religiosos de Sion. Que eles sejam pastores com “cheiro de ovelhas”, em busca de anunciar o Evangelho nas “periferias existenciais” de nossa amada Arquidiocese, gastando a sua vida, despretensiosamente em favor de todos, particularmente dos mais pobres e daqueles e daquelas que vivem em situação de risco. O Bispo diocesano, como pai, preside o presbitério e ama os seus presbíteros, seus colaboradores na missão como filhos. O Bispo consola seus padres e os anima na missão desse mistério de ser um outro Cristo. Por isso, aos neo-sacerdotes e a todos os sacerdotes da Arquidiocese e de todo o Brasil eu digo: foram chamados, escolhidos, ordenados, enviados! Tenhamos fé no nosso sacerdócio. Ele é o sacerdócio de sempre porque é uma participação no sacerdócio eterno de Cristo, "que é o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8; Ap 1, 17ss). Se as exigências do sacerdócio são grandes, consola-nos a proximidade do Senhor, pois somos seus sacerdotes. "Já não vos chamo servos, mas sim amigos" (Jo 15,5) “para que todos sejam um em Cristo”!