A procissão do Encontro nos prepara para começarmos, nesta Quinta-feira Santa, o santo Tríduo Pascal, que nos faz celebrar na graça de Deus o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Podemos olhar o momento sob diversos ângulos: o de Maria ao encontrar o seu Filho Jesus e os olhares que se trocam diante da dor; o da Igreja ao encontrar seus filhos sofrendo pela vida e vendo em cada um o próprio Jesus Cristo; a figura da mãe diante de seus filhos que passam pelas dores e dificuldades. É o momento também de pensar em nossos encontros e desencontros da vida: necessitamos viver a caminhada para encontrar o outro, o nosso irmão. E, nesses encontros, cada um de nós encontra-se com Jesus Cristo na pessoa do outro; encontramos nos acontecimentos pela vida afora o Cristo que nos salva e liberta. São muitos olhares e muitas situações. Em qual delas nós nos colocamos?
Somos convidados, nesta procissão, a olhar para as imagens de Jesus e de sua Mãe, Maria, a Virgem. Duas imagens, duas lições, duas emoções! Primeiro a imagem de Cristo, daquele que por nós se fez obediente ao Pai até a morte, e morte de Cruz. Vede: fez-se obediente ao Pai... por nós! Olhai a cruz: aí aparece o amor de Jesus ao Pai, aí aparece o amor de Jesus por nós!
Jesus meu, por que carregas esta pesada cruz? Por que agora tua Mãe adolorada vê-te carregando tão pesado lenho? Eis a resposta que Ele nos dá: “Levo esta cruz por amor a você, para o salvar! Levo-a porque ninguém pode tirar-me a vida: eu a dou livremente! Este é o preceito que recebi do meu Pai querido! Levo-a para que o mundo saiba que eu amo o Pai! Eu me entrego ao Pai, eu me confio ao Pai, eu coloco nas mãos do meu querido Papai a minha vida! Mas, levo-a também por vós; porque o Pai amou tanto o mundo, amou tanto a todos vós, pecadores, que me entregou à morte, a mim, seu único Filho, para que eu dê a todos a salvação e a vida! Vede minha cruz, vede minha dor, vede minhas chagas, contemplai minha queda! Eu vos amo!
Não há maior prova de amor que dar a vida por quem se ama... Não vos amei só com palavras, não vos amei só com sentimentos. Não! Amei-vos no peso desse madeiro, amei-vos nas quedas dolorosas que tanto me feriram, amei-vos nas gotas rubras de sangue por mim vertidas, amei-vos nos cravos pontiagudos... Amei-vos de verdade, de modo concreto! Amei-vos até o fim, até a morte!
A lição que o Senhor Jesus nos dá hoje: amor total e confiante ao Pai, amor generoso e concreto, real, por nós todos! Pela cruz de Jesus, amemos assim; pelas suas santas chagas, sigamos seu exemplo; pela sua dolorosíssima Paixão, paguemos-lhe amor com amor, doação por doação, compromisso por compromisso!
Perdão, Senhor, por nosso amor tão frio! Perdão por nosso amor só de palavras! Perdão pelas infidelidades de nosso coração acomodado! Perdão por nossa preguiça espiritual, pela nossa lentidão para com o que é teu, e nossa prontidão para com o que é do mundo e do pecado! Perdão, Senhor! Pecamos, Senhor! Misericórdia!
Aprendamos também com a imagem da Bem-aventurada Virgem Maria. A quem te comparar? Quem se assemelha a ti, Filha de Jerusalém? Ela também entrou na obediência! Ela também aceitou fazer a vontade de Deus: “faça-se em mim segundo a tua palavra”. Estamos contemplando os olhares de duas pessoas que se colocaram abertas para “fazer a vontade de Deus”, que é a salvação da humanidade. Diante desse momento de dor, quem poderá consolar-te, Virgem, Filha de Sião? Grande como o mar é o teu desastre! Quem te curará”? (Lm 2,13). A Mãe do Senhor é toda dor, toda tristeza! Mas, pensai, irmãos, pensai! Quanta força nessa doce mulher, quanta dignidade, quanta fidelidade ao Senhor Deus!
Ó Maria Virgem, o Anjo te havia prometido: “Ele será grande! O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu Pai... O seu reino não terá fim”! E agora, o que vês? O teu Filho feito trapo humano, feito farrapo de gente, abandonado, ultrajado, injustiçado, machucado de corpo e de coração! Onde está o teu Deus, Virgem Maria? Onde, as tuas promessas?
Virgem Santíssima, ensina-nos a esperar no Senhor mesmo na dor! Ensina-nos a sofrer com a tua dignidade, com a tua esperança! Neste Ano da Esperança em nossa Arquidiocese aprendamos a viver, mesmo nos momentos mais difíceis, a vida cristã sendo sinal de esperança. O fundamento de nossa esperança é Cristo Ressuscitado, Ele venceu a morte. Agora, diante do sofrimento, olhemos para Maria, mesmo na dor, no entanto, quanta confiança, quanta altivez, quanta força, quanta dignidade, quanta beleza em ti, aos pés da cruz! Senhora nossa, és Senhora de ti mesma, antes de seres Nossa Senhora! No Altar da agonia foste consolo para quem padecia, foste ternura naquele entardecer, foste esperança do amanhecer! Pela espada tão dolorosa que traspassa agora tua alma, roga por nós, Virgem Maria! Roga pelas mães que sofrem por seus filhos, roga pelos lares destroçados, roga pelos filhos que caem na droga e na imoralidade, roga pelos filhos sem lar, roga por todos nós, pecadores, agora e na hora da morte de cada um de nós!
A ti, uma espada terrível traspassa a alma! Tu também, Mãe mais bendita que todas, tens de pagar tua parte na salvação do mundo! Suporta, pois, Virgem! Suporta com Ele, por nós! Completa em tua carne bendita, na completa da carne da tua alma ferida, o que falta à paixão do teu Filho! Dá-nos a luz na dor, tu, que, sem dor o deste à luz! Por amor do teu Filho, roga por nós, filhos teus, agora e na hora de nossa morte!
Ó Senhor Jesus, Homem de dores, desfigurado pelos nossos pecados! Ó Lenho verde, cheio de vida! Piedade das mães e dos pais do mundo inteiro. Piedade desses lenhos secos! Piedade dos que choram por seus filhos, filhos de um mundo sem Deus! Piedade, porque seus filhos estragam a vida, ressecam o coração na falta de Deus, na falta de esperança, na droga que mata, na violência que dilacera, no sexo sem amor nem consequência, que esvazia o sentido do amor e tira a alegria de viver! Piedade desses pais, piedade desses filhos nossos, lenhos num mundo sem Deus!