Rio2016: Lançamento de campanha contra o tráfico de pessoas

Uma oferta de emprego no Rio de Janeiro e USD 600 de ajuda de custo contribuiu para que Sara Juan Carlos saísse do Peru. Quando ela pisou em solo carioca confiando que sua vida mudaria para melhor, foi trancafiada por um mês, sem salário, sem alimentação e sem condições dignas de vida. O sonho havia acabado. A história de Sara foi contada na terça-feira, 31 de maio, durante o lançamento da campanha “Jogue a Favor da Vida”, no Santuário Cristo Redentor. O objetivo foi mobilizar a população contra o tráfico de pessoas, o trabalho escravo, a exploração sexual e a comercialização de órgãos humanos durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

“Eu pensei que a minha vida estava acabada”, disse a peruana, que agora está sob os cuidados da Pastoral do Migrante do Rio de Janeiro. Sara é uma das 45,8 milhões de pessoas que sofrem tráfico de pessoas do mundo, que são aliciadas com a proposta de um emprego dos sonhos ou de mudança de vida.

Um relatório do Ministério da Justiça informou que, entre 2011 e 2013, o número de denúncias de casos de tráfico de pessoas cresceu 865%. O dado passou de 32 casos recebidos pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) em 2011 para 170 no ano seguinte e para 309 em 2013. Nos primeiros quatro meses deste ano, já foram registrados mais de 500 casos de denúncia no Disque 100.

De acordo com irmã Eurides Alves de Oliveira, coordenadora da Rede um Grito pela Vida, os Jogos Olímpicos podem representar um risco para o crescimento da violação de direitos, do trabalho infantil e da exploração sexual. “Somente com informação, prevenção e a pressão da sociedade podemos combater esses crimes”, afirmou irmã Eurides.

A preocupação da sociedade civil é compartilhada pelo Governo do Estado. O superintendente de promoção dos Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Miguel Mesquita, afirmou que representantes de diversos órgãos estarão atentos a violações nos locais de competição no período dos jogos, além de investir em campanhas publicitárias no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim. Também será promovida a Semana Nacional contra o Tráfico de Pessoas, em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

Mesquita defende que é preciso alertar a população: "O tráfico de pessoas é um crime muito escondido. As pessoas não sabem que existe, não sabem como acontece. É tudo muito misterioso. As pessoas envolvidas são muito articuladas e contam com o envolvimento de indivíduos de classes mais altas", disse. O superintendente recomendou denunciar ou buscar orientação quando se deparar com ofertas de emprego boas demais, convites de viagem e propostas de casamento no exterior. "O tráfico vai trabalhar sempre com a vulnerabilização. Se a pessoa quer um emprego, quer realizar um sonho, precisa sair de uma situação de guerra".

A campanha foi lançada pelo Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o Núcleo Rede um Grito Pela Vida/RJ e o Centro dos Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu (Fórum Grita Baixada). Além do Rio de Janeiro, outros 22 estados mais o Distrito Federal receberão a campanha, que também é divulgada internacionalmente pelas Redes Continentais Kawsay, Ramá e Talitha Kum.

A ação contou com a presença de organizações religiosas, da Casa do Menor São Miguel Arcanjo, do Centro de População Marginalizada, da Conferência de Religiosos do Brasil, da Igreja Batista Nova Filadélfia e do Movimento Humanos Direitos.

Para denunciar casos de tráfico de pessoas, disque 100 e/ou 180.

Fotos: Renato Saraiva.